quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Para esses dias...

DESEJO
Victor Hugo



Desejo, primeiro, que você ame,
e que, amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer
e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que você tenha amigos
que, mesmo maus e inconsequentes,
sejam corajosos e fiéis,
e que pelo menos em um deles
você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
desejo ainda que você tenha inimigos,
nem muitos, nem poucos,
mas na medida exata para que, algumas vezes,você se interpele a respeito
de suas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo, depois, que você seja útil,
mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância,
você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
não amadureça depressa demais,
e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer,
e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste.
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
que o riso diário é bom,
o riso habitual é insosso
e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
com a máxima urgëncia,
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
erguer triunfante o seu canto matinal,
porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja,
e acompenhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas
muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
coloque um pouco dele
na sua frente e diga "isso é meu",
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
por ele e por você,
mas que se morrer, você possa chorar
sem se lamentar, sofrer e sem se culpar.

Desejo por fim que você, sendo um homem,
tenha uma boa mulher,
e que, sendo uma mulher,
tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
não tenho mais a te desejar.

Façamos desse sentimento tão grandioso e humano ponto de equilíbrio e reflexão.

Reflexões

Concordo que ninguém nasce bandido.O meio pode influenciar,agir contra a moral, a índole,mas ninguém nasce mau.
Concordo que a violência é cruel com o pobre, o preto,o favelado.Concordo.
O pobre torna a cor da pele mero detalhe...pobre não tem casa, estudo,saúde...direitos básicos.O imediato fala mais alto.
O jovem das comunidades sofre o assédio do tráfico, sofre o preconceito do asfalto,luta contra os desmandos da vida. O dinheiro fácil da droga causa encantamento e resolve questões urgentes.
Não adianta dar tiro ou usar a violência pela violência. Bandido é burro,covarde e depende do medo pra se procriar.
Se os caras só conhecem a força,usemos a inteligência.
O grande bandido está na Barra, em Copa, na Barra...condomínios de luxo.Alguns tiveram estudo,bons lares...mas preferiram usar a miséria das periferias para construir impérios.Organizaram o crime através da conivÊncia de políticos e de policiais.
Não adianta dar tiro no morro.Quem deseja resolver algo, vai atrás de peixe graúdo.Não fica dando soco em ponta de faca.
Ninguém nasce mau...valores começam com família,cidadania e sólidas instituições.

O MEDO - Carlos Drummond de Andrade

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas

do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.

Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.

MEDO

O dia de hoje atende pelo nome MEDO.Como chegamos a estes dias?
A resposta não é simples,porém o pacto foi quebrado e a resposta está sendo dada.
Bandidos criam um cenário de terror e as pessoas de bem se veem acuadas pela violência gratuita e covarde.
Esperamos que a justiça faça sua parte...será suficiente?Ansiosos ficamos e perguntas são feitas:existem direitos humanos para bandidos? Se são terroristas,eles podem ter acesso à justiça- advogados,redução de pena,visitas íntimas-? E a radicalização das ações mudará o quê? Será que a legalização das drogas resolveria o problema? E esses políticos e policiais corruptos que dão arrego pra essa bandidagem,ficarão impunes?
São algumas perguntas que merecem reflexão.Não podemos desdenhar da crise nem demonstrar medo exagerado.
Vamos esperar as cenas do próximo capítulo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pra que poder?

Eu tenho poder...
Mas eu não quero ele...
Não quero ,obrigado!
Nem quero obrigado.

O poder me cheira
mija no meu pé...
urra sentimentos difíceis...
rosna pros potenciais
invejosos
-sim o poder desperta inveja-
e vem cobiça
e vem ódio
e vem escrotices
e vem soberba...

O poder me dá ultimato.
Mas sou pequeno demais pra abraçar ele
sou covarde demais pra carregar ele...
seja um anel
seja um galhardete
seja um estandarte...

Eu não caibo nele
ele não cabe em mim.
Somos estranhos
Mal nos encaramos...
apenas fazemos protestos
apenas...
e sigo meu caminho.
Submisso,comum,estranho.
Basta!

Lixo,humanidade...uma menina?!

Essa semana fiquei mal.O assassinato da menina no Rio - estuprada e morta por um doente- é mais um triste episódio das cenas urbanas.O que está acontecendo com as pessoas?Por que a morte está tão banalizada? Por que as pessoas estão tão indiferentes ao sofrimento alheio? Cadê a indignação?
Vi muita gente discutindo política, A fazenda, futebol, mulheres...nada sobre a menina...é só mais uma vítima...só mais um caso,um número,um óbito.
É só uma infância de garganta cortada,de corpo estuprado,jogado no lixo...no lixo!!!Meu Deus!Que lixo está se tornando essa humanidade?
Será que é só miséria? Será que é falta de educação?Falta de atenção?Falta de quê?
A menina morta me fez pensar no futuro morto.No presente assassinado - doloso ou culposo?????...Pra que olhar o passado?
Essa semana me senti menos humano. Vi a grande lata de lixo moral em que vivo.

GAIOLA 2